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Cova Gala Rastos do Passado...


Decorria o ano de 1773, quando Manuel Pereira se deslocou a Lavos, com a sua mulher Luísa dos Santos e alguns familiares, para batizar seu filho Luís, que nascera havia quatro dias, no lugar da Cova.

O dia quinze desse mês prometia ser quente, mas a viagem, a pé, de três quilómetros, do lugar da Cova, primeiro pelas areias das dunas e cabeços, depois pela estrada que ladeava o rio até à Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Lavos, decorreu alegre e folgada. Chegada a hora aprazada, o padre cura, Tomás da Costa, batizou solenemente o recém-nascido Luís, cujos familiares eram de Ílhavo.

Este foi o primeiro batismo cujo assento regista um nascimento no lugar da Cova e, como tal, o reconhecimento da existência do povoado. Anos antes, provavelmente entre 1770 e 1780, um grupo de pescadores, naturais de Ílhavo, constroem palhoças feitas de junco ao abrigo do maior médão a Sul da foz do Rio Mondego. Lá ao fundo, a Norte, vislumbrava-se a vila de Buarcos e, mais perto e já bela, a recém nascida vila de Figueira da Foz. Era a promessa segura, com o Mondego ao lado e as terras de Lavos estendidas a Sul, do bom escoamento das pescas. Como e porque se estabeleceram assim, na cava de uma duna, logo de cova foi apelidada. O povoado de Gala, por seu turno, começa a tomar forma quando, vários anos após se terem instalado na Cova, alguns pescadores se deslocaram para Nascente e ergueram aí pequenas barracas ribeirinhas para recolha de redes e apetrechos de pesca. Foram-se erguendo, também à beira do rio, grandes armazéns de madeira para salgar, conservar e comercializar a sardinha proveniente das artes da Cova.

Na obra, As Freguesias de S. Pedro, Lavos, S. Julião e Buarcos em artigos de Buscador, o ilustre Galense, Capitão João Pereira Mano regista que a Cova e a Gala estão, desde a sua origem, cultural e socialmente ligadas ao mar e o seu povo sempre viveu de forma intensa os dramas e glórias que o mar, na sua imensidão, proporciona. Disso são exemplo a ajuda prestada ao desembarque das tropas de Wellesley no Cabedelo, que contribuiu para pôr cobro às Invasões Francesas e aos naufrágios de bateiras no rio, de traineiras na safra da sardinha, ou ainda, de barcos de pesca à linha e mais tarde de arrasto, na longínqua pesca do bacalhau. Assim se perde no limbo do tempo a ligação do mar a este povo que deu origem ao povoado da Cova.

À Cova e à Gala, de antanho, se colou uma cultura marítima forte e persistente que ainda hoje, e apesar da inextinguível mutação dos tempo e das gentes, se pode apreciar e constatar em boa parte da população masculina da Cova-Gala. Desde as artes usadas no mar da Cova D’Oiro, passando pelas artes utilizadas no rio, pela Pesca do Bacalhau, pelo Cabo Branco, pela Marinha Mercante, pela Pesca da Sardinha, pelo Arrasto, pela Pesca Artesanal, a todas elas aderiu o homem de Cova e da Gala, ao longo do seu percurso. Também se deve considerar o elevado número de naturais da Cova-Gala que, ao longo dos tempos, se foram radicando nos Estados Unidos, como emigrantes e ligados às pescas na sua maior parte.

A denominação Cova-Gala atribuída à população destes dois lugares, não surge por acaso. Trata-se de um uso, já com alguns anos, dos seus habitantes que, acompanhando o percurso do progresso e as suas incidências no avançar das duas povoações ao encontro uma da outra, unindo o que outrora era separado por uma fina faixa de areia, cabeços e valados. Já pertencem ao passado as rixas entre estes dois povoados, os ditos como os saudosos “Mais vale a Cova que a Gala toda” ao que se retorquia “ouvi dizer que a Gala na sua boca é uma cidade!”

 

Realização - João Manuel Fidalgo Pimentel

Última atualização: 27-12-2024

Publicado por: Freguesia de São Pedro - Figueira da Foz

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